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terça-feira, 20 de março de 2012

Câmara pode conceder anistia a sem-terras do Massacre de Carumbiara

Câmara pode conceder anistia a sem-terras do Massacre de Carumbiara

João Paulo Cunha: a Justiça de Rondônia condenou injustamente os camponeses.
A Câmara analisa projeto que concede anistia aos trabalhadores rurais de Rondônia punidos no episódio conhecido como "Massacre de Corumbiara". Dois camponeses foram condenados no episódio, Claudemir Gilberto Ramos e Cícero Pereira Leite Neto, acusados pela morte de dois policiais. A previsão de anistia está no Projeto de Lei 2000/11, apresentado pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP).

Para o deputado, o Poder Judiciário do estado de Rondônia condenou injustamente os camponeses por homicídio, tendo absolvido a quase totalidade dos policiais militares que participaram e foram os verdadeiros responsáveis pelo massacre. Durante o processo, o promotor de justiça responsável pela argumentação disse aos jurados que “ou o Brasil acaba com os sem-terras ou os sem-terras acabam com o Brasil”, e defendeu uma tese de que os soldados agiram em defesa de suas vidas.

“A frase pronunciada pelo promotor de Justiça demonstra de forma cabal e peremptória toda a parcialidade da investigação e da condução do processo criminal e, substancialmente, a forma lamentável, como agiram as autoridades policiais, o Ministério Público e o Judiciário do estado, no caso concreto”, argumentou João Paulo Cunha.

História
O episódio conhecido como “Massacre de Corumbiara” ocorreu em 1995 durante a reintegração de posse de uma área rural ocupada por trabalhadores sem-terra. Oficialmente,16 pessoas morreram no conflito, entre elas uma criança de nove anos e dois policiais.

Além da polícia e dos camponeses, há indícios de que jagunços armados participaram da operação, e os camponeses alegam que mais de 100 pessoas podem ter sido mortas, tendo seus corpos enterrados ou incinerados. “Na verdade, ficou caracterizado que o massacre foi uma empreitada particular, financiada por particulares, onde a polícia estava a serviço de fazendeiros e até certo modo sob o "comando" dos mesmos”, conclui a professora Helena de Mesquita em seu livro “Curumbiara, o massacre dos camponeses”, citado por João Paulo Cunha.

Os recursos dos sem-terra a instâncias superiores do Judiciário não tiveram êxito, mas a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), no Relatório 32/04, condenou o Estado brasileiro pelo episódio, e recomendou que medidas de reparação fossem tomadas.

Assassinato
O deputado também alertou para as consequências desse tipo de decisão, que em sua opinião procura calar os movimentos de trabalhadores. Ele lembrou que em maio o pai de um dos condenados, Adelino Ramos, que era um dos sobreviventes do massacre e líder do movimento local, foi assassinado em Rondônia por um pistoleiro já identificado e que segundo Cunha estava a mando dos mesmos interessados no massacre.

“Para além de enfrentar de forma acerba a violência que vem sendo desencadeada contra trabalhadores e lideranças rurais, o Estado brasileiro tem um compromisso inadiável de reparar, por meios judiciais e materiais disponíveis, todas as violações que foram perpetradas contra os trabalhadores rurais em Corumbiara”, concluiu.

Tramitação
O projeto será analisado pelas comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; e de Constituição e Justiça e de Cidadania, inclusive no seu mérito; antes se ser votada em Plenário.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Reunião discute conflitos agrários no Cone Sul

O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho. 
 


Aconteceu em 15/03/12, na Câmara de Vereadores de Vilhena, a partir das 9h30, uma reunião entre Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, Incra, trabalhadores rurais e movimentos sociais para discutir sobre os conflitos agrários e violência no campo na Região Sul do Estado de Rondônia. 

Esta reunião atende a uma solicitação dos Movimentos Sociais (MST/RO, CPT/RO e FETAGRO), em detrimento dos conflitos agrários na região chegarem a patamares inaceitáveis, a exemplo da prisão do presidente do Sindicato dos Trabalhadores (as) Rurais de Vilhena/Chupinguaia, Udo Wahlbrink, e do vereador de Chupinguaia Roberto Ferreira Pinto, ocorrida no último dia 5 de março. 

Entre os pontos de discussão previstos na pauta, está mediação ou solução de conflitos na área denominada fazenda Rio de Ouro, onde está localizado o acampamento de trabalhadores rurais sem-terra denominado Barro Branco, em Chupinguaia; e a verificação do andamento de inquéritos policiais agrários e das medidas adotadas para segurança física de pessoas ameaçadas.

Espera-se deste encontro, que será coordenado pelo ouvidor agrário nacional e presidente da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, desembargador Gercino José da Silva Filho, encontrar soluções rápidas e concretas para a luta agrária na região sul do Estado. 

Fonte:

CRABASTOS@: MOTIVOS HISTÓRICOS DAS REVOLTAS E REBELIÕES NO CAMPO

Tirado do DVD - Direito à Memória Verdade e Justiça – do Ministério
da Justiça, relativos aos Estudos e Implantação da Comissão da Verdade no
Brasil, sob o Título – Revoltas e rebeliões no campo.

Foto de Brasil247

A partir do início da década de 1960, a figura do trabalhador rural ganhou força e visibilidade política na cena pública do país. O reconhecimento de sua importância deveu-se, em grande parte, ao esforço de mobilização desses trabalhadores durante os anos de 1940 e 1950, período em que posseiros, parceiros, arrendatários, foreiros e colonos, entre outras denominações, passaram a se organizar coletivamente e a reagir principalmente contra as expulsões de trabalhadores das propriedades rurais. 

Essas expulsões ocorreram por razões diversas, em diferentes regiões do Brasil – incorporação de antigos engenhos ao sistema de usinas; utilização de áreas de plantio de uso do trabalhador e de sua família com finalidades industriais; apropriação indébita de terras cultivadas pelo trabalhador rural; processo de urbanização acelerado pelo aumento das migrações do campo para a cidade. Em comum, porém, essas expulsões atingiram um número elevado de trabalhadores, de forma súbita, ao mesmo tempo e em áreas distintas do país.

As lutas sociais que eclodiram na área indicam que o acesso à terra funcionava como sua motivação básica – ainda que a reivindicação de reforma agrária só apareça como pauta unificadora do movimento no final da década de 1950. Todas essas lutas contaram com a  articipação de grupos e partidos de esquerda, envolveram um número significativo de camponeses e provocaram enfrentamentos armados entre trabalhadores rurais, jagunços e policiais. 

Ainda que as motivações fossem distintas, as lutas em Porecatu, no norte do Paraná, remontavam ao final da década de 1940, quando posseiros começaram a ser mortos por jagunços encarregados de promover sua expulsão das terras. Também na revolta de Trombas - Formoso, ocorrida em Goiás, e que se prolongou por toda a década de 1950, o motivo foi a grilagem, a apropriação indébita de terras cultivadas por posseiros. Já na região do Triângulo Mineiro, as lutas foram provocadas pela transformação dos arrozais em pasto cultivado para receber milhares de cabeças de gado. Nas matas do Pindaré Mirim, no Maranhão, outro mote: a invasão do gado zebu nas roças destruindo a produção do trabalhador. Os motivos eram muitos, mas graças a lutas como essas surgiram organizações camponesas, e o Brasil evidenciou, no campo, a marca dos graves problemas sociais – problemas que exigiam soluções urgentes, não de natureza policial, mas política, como a Reforma Agrária.

Poderá ler também:



Para saber mais:

GRYNSZPAN, Mario. Da barbárie à terra prometida: o campo e as lutas
sociais na história da República. In: GRYNSZPAN, Mario et al. (Org.). A República
no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Fundação Getulio Vargas, 2002.

MEDEIROS, Leonilde Servolo. Luta por terra e organização dos trabalhadores
rurais: a esquerda no campo nos anos 50/60. In: MORAES, João Quartim; ROIO,
Marcos Del. (Org.). História do marxismo no Brasil: visões do Brasil. Campinas:
Editora UNICAMP, 2007.

Referências bibliográficas:
BEZERRA, Gregório. Memórias (segunda parte: 1946-1969). Rio de Janeiro;
Civilização Brasileira, 1979.

BORGES, Joaquim. Operação anti-guerrilha. Uberaba: Editora Juruna,
1979.

COELHO, Marco Antônio Tavares. Herança de um sonho: as memórias de
um comunista. Rio de Janeiro: Record, 2000. CONCEIÇÃO, Manuel da. Essa terra é
nossa. Petrópolis: Vozes, 1980.

CUNHA, Paulo Ribeiro da. “Utopia e realidade na luta camponesa de Formoso
e Trombas”. In: STARLING, Heloisa M. M, RODRIGUES, Henrique Estrada, TELLES,
Marcela (org.) Utopias agrárias. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

GRYNSZPAN, Mario. “Da barbárie à terra prometida: o campo e as
lutas  sociais na história da República”.
In:__. GOMES, Angela de Castro, PANDOLFI, Dulce Chaves, ALBERTI, Verena (org.)
A República no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira; Fundação Getúlio
Vargas, 2002.

MEDEIROS, Leonilde Servolo. “Luta por terra e organização dos trabalhadores
rurais; a esquerda no campo nos anos 50/60”. In:MORAES, João Quartim &
ROIO, Marcos Del. (org.) História do marxismo no Brasil: visões do Brasil. Campinas:
Editora UNICAMP, 2007.

PAULA, Delsy Gonçalves & SOARES, Paula Elise. “Uma história recôndita:
a orientação socialista e as lutas no campo brasileiro”. In: PAULA, Delsy
Gonçalves, STARLING, Heloisa M. M. GUIMARÃES, Juarez Rocha (org.) Sentimento de
reforma agrária, sentimento de república. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.

SIQUEIRA, André Ike. “1950: caçada humana no norte do Paraná”. In:__.
João Saldanha: uma vida em jogo. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.

sábado, 17 de março de 2012

Projetos de Lei REQ 4001/2011 => PL 2000/2011

Requerimento de Redistribuição

Situação:

Acessório de: PL 2000/2011


Identificação da Proposição

Autor
João Paulo Cunha - PT/SP


07/12/2011

Ementa
Requeiro, nos termos regimentais, seja reconsiderada a distribuição às Comissões do Projeto de Lei nº 2000, de 2011, para que seja distribuída tão somente à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, de acordo com o art. 53 e 54 do Regimento Interno desta casa.


Informações de Tramitação

Forma de Apreciação
.

Regime de Tramitação
.


Despacho atual:

Data Despacho
15/03/2012 Defiro o Requerimento n. 4.001/2011, para rever o despacho inicial aposto ao Projeto de Lei n. 2.000/2011, excluindo a Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural - CAPADR como competente para se pronunciar quanto à matéria. Publique-se. Oficie-se.
[ATUALIZAÇÃO DO DESPACHO DO PL n. 2.000/2011: À CCJC (mérito e art. 54, RICD) - Proposição sujeita à apreciação pelo Plenário. Regime de tramitação: ordinário.]
Última Ação Legislativa

Data Ação
15/03/2012 Mesa Diretora da Câmara dos Deputados (MESA )
Defiro o Requerimento n. 4.001/2011, para rever o despacho inicial aposto ao Projeto de Lei n. 2.000/2011, excluindo a Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural - CAPADR como competente para se pronunciar quanto à matéria. Publique-se. Oficie-se.
[ATUALIZAÇÃO DO DESPACHO DO PL n. 2.000/2011: À CCJC (mérito e art. 54, RICD) - Proposição sujeita à apreciação pelo Plenário. Regime de tramitação: ordinário.]
Árvore de apensados e outros documentos da matéria
Documentos Anexos e Referenciados

Avulsos
Destaques (0)
Emendas (0)
Histórico de despachos (1)
Legislação citada
Histórico de Pareceres, Substitutivos e Votos (0)
Recursos (0)
Redação Final
Mensagens, Ofícios e Requerimentos (0)
Relatório de conferência de assinaturas

Cadastrar para acompanhamentoTramitação

Obs.: o andamento da proposição fora desta Casa Legislativa não é tratado pelo sistema, devendo ser consultado nos órgãos respectivos.

Data Andamento
07/12/2011
PLENÁRIO (PLEN )
Apresentação do Requerimento de Redistribuição n. 4001/2011, pelo Deputado João Paulo Cunha (PT-SP), que: "Requeiro, nos termos regimentais, seja reconsiderada a distribuição às Comissões do Projeto de Lei nº 2000, de 2011, para que seja distribuída tão somente à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, de acordo com o art. 53 e 54 do Regimento Interno desta casa.
". Inteiro teor
07/12/2011
Seção de Publicação do Diário da Câmara dos Deputados (SEPUB(SGM))
Publicação inicial no DCD do dia 08/12/2011
15/03/2012
Mesa Diretora da Câmara dos Deputados (MESA )
Defiro o Requerimento n. 4.001/2011, para rever o despacho inicial aposto ao Projeto de Lei n. 2.000/2011, excluindo a Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural - CAPADR como competente para se pronunciar quanto à matéria. Publique-se. Oficie-se.
[ATUALIZAÇÃO DO DESPACHO DO PL n. 2.000/2011: À CCJC (mérito e art. 54, RICD) - Proposição sujeita à apreciação pelo Plenário. Regime de tramitação: ordinário.] Inteiro teor
15/03/2012
Seção de Publicação do Diário da Câmara dos Deputados (SEPUB(SGM))
Publicação do despacho no DCD do dia 16/03/2012
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=530451

Audiência pública debate conflito agrário e violência no campo em Rondônia

Direto do Portal da CTB em 16/03/2012

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A Câmara de Vereadores de Vilhena (RO) sediou na última quinta-feira (15), uma audiência pública para tratou dos conflitos agrários e da violência no campo na Região Sul de Rondônia, também chamada de Cone Sul.

Participaram da reunião representantes da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Rondônia (FETAGRO), demais movimentos sociais e trabalhadores e trabalhadoras rurais.
Entre os pontos de discussão que foram abordados na audiência estavam a mediação ou solução de conflitos na área denominada Rio de Ouro, onde está localizado o acampamento de trabalhadores e trabalhadoras rurais sem-terra conhecido como Barro Branco, em Chupinguaia, além da verificação do andamento de inquéritos policiais agrários e das medidas adotadas para segurança física de pessoas ameaçadas.
 Para o secretário de Política Agrária da CONTAG, Willian Clementino, a situação nessa região chegou a patamares inaceitáveis, inclusive com a prisão do presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTRs) de Vilhena/ Chupinguaia, Udo Wahlbrink, e do vereador de Chupinguaia Roberto Ferreira Pinto (PMN), no último dia (05) e que ainda continuam presos no presídio de Vilhena. Os dois estavam envolvidos em ações de luta pela terra. "Cerca de 800 pessoas esperam ansiosamente o desenrolar da audiência pública, acreditando que a luta dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais tenha um empenho da Ouvidoria Agrária Nacional e os demais órgãos competentes para que deem um basta nos conflitos e nessa sensação de impunidade que existe no campo", afirmou o sindicalista.
Na semana passada, a Contasg e a FETAGRO já denunciaram a forma violenta como o poder público de Rondônia vem tratando os trabalhadores e as trabalhadoras rurais que lutam pelo acesso à terra, principalmente na região do Cone Sul do estado.
Segundo o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Rondônia (FETAGRO), Lázaro Dobri, o Cone Sul registra muitos conflitos agrários por concentrar mais de 50 áreas de latifúndio, sendo mais de 15 improdutivos. "Tem áreas que estão sendo retomadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mas os juízes estão concedendo a posse para os que se intitulam proprietários", explica.
Lázaro completa que essa sensação de impunidade e de criminalização da luta pela terra já acontece há muito tempo em Rondônia. Afinal, o Massacre de Corumbiara completou 16 anos. Na ocasião, cerca de 600 trabalhadores e trabalhadoras rurais ocuparam a Fazenda Santa Elina, identificado como um latifúndio improdutivo.
Durante a madrugada, pistoleiros armados, recrutados nas fazendas da região, juntamente com policiais militares, iniciaram os ataques ao acampamento. O número oficial de mortos é de 12 pessoas, dos quais dois eram policiais e uma era criança.

Portal CTBAudiência pública debate conflito agrário e violência no campo em Rondônia. 16/03/2012. Online. Disponível em : http://portalctb.org.br/site/trabalhadores-rurais/16588-audiencia-publica-discuti-conflito-agrario-e-violencia-no-campo-em-rondonia-Capturado em: 16/03/2012.


Também postado em:
CRABASTOS BRASIL. em: http://crabastosbrasil.blogspot.com.br/2012/03/audiencia-publica-debate-conflito.html. Por 

sexta-feira, 16 de março de 2012

MST perde grande amigo e colaborador com a morte do Aziz Ab'Saber


domingo, 11 de março de 2012

Brasil: pode a economia agrária desenvolver-se sem derramamento de sangue no campo?


Brasil: pode a economia agrária desenvolver-se sem derramamento de sangue no campo?

TraduçõesEste post também está disponível em:

Español· Brazil: ¿Puede desarrollarse la economía agrícola sin derramamiento de sangre en las zonas rurales?
English· Brazil: Can the Agrarian Economy Develop Without Rural Bloodshed?
Nilcilene Miguel de Lima, uma pequena produtora rural e líder local da região amazônica, está sob proteção da Força Nacional, pois tem recebido constantes ameaças de morte de grileiros e madeireiros ilegais.
No início de fevereiro, a agência brasileira de jornalismo investigativo A Pública foi para a cidade de Lábrea, no estado do Amazonas, para entrevistá-la:
As ameaças começaram em 2009, quando ela assumiu a presidência da associação Deus Proverá, criada pelos pequenos produtores do assentamento para defender o grupo contra as invasões de terra e roubo de árvores. No ano seguinte, depois de fazer denúncias e abaixo-assinados contra os criminosos, Nilcilene foi espancada e teve sua casa queimada em um incêndio anunciado. Em maio de 2011, foi obrigada a fugir enrolada em um lençol para despistar o pistoleiro que estava de campana no seu portão. A equipe da Força Nacional foi deslocada em outubro para garantir que a líder pudesse voltar para casa e continuar denunciando os problemas da região.
No vídeo, algumas das declarações Nilcene são:
Por que temos de viver assim? Alguém tem de lutar, fazer alguma coisa. […] As autoridades têm de agir. […] Tantos conflitos por causa da exploração madeireira e da terra. […] Se a Força Nacional sair, meu companheiro e eu temos de sair antes deles. Se ficarmos, antes de sermos mortos, seremos torturados. […] Até hoje eu continuo a receber ameaças de morte.
Mortos a tiros por protegerem a floresta
Nicelene está, junto de outras seis pessoas, sob proteção 24 horas da Força Nacional. Ela está entre as 172 pessoas que receberam ameaças de morte de pistoleiros no interior brasileiro. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), uma organização que apoia os direitos rurais pela terra e pela água, esse número aumentou 107% em relação a 2010, quando 83 pessoas estavam na mesma situação.
No ano passado, como o Global Voices relatou, a CPT publicou dados que mostram que 1.614 pessoas foram assassinadas nos últimos 25 anos devido a conflitos rurais. Este número inclui os casos conhecidos em todo o mundo como o de Chico Mendes,Dorothy Stang e o Massacre de Eldorado dos Carajás, entre outros.
Informações atuais mostram que, no total, o número de pessoas que lidam com as pressões impostas pelos bandidos devido a conflitos de terra e água no Brasil aumentou de 38.555 em 2010 para 45.595 em 2011. Houve 32 execuções de trabalhadores ou de líderes locais dessas comunidades em 2010 e 23 em 2011, como a CPT informou.
Adelino Ramos. Foto do blog de Altino Machado (usada com permissão).
Adelino Ramos. Foto do blog de Altino Machado (usada com permissão).
A intervenção da Força Nacional para proteger os líderes comunitários locais na região Norte do Brasil, veio também como consequência do trabalho da CPT. A CPT entregou à Secretaria Especial de Direitos Humanos, um órgão dentro do Ministério da Justiça brasileiro, uma lista com os nomes de pessoas sob ameaça de morte após o assassinato de Maria do Espírito Santo e de seu marido José Cláudio Ribeiro da Silva no estado do Pará, que envergonhou o país.
Após o brutal assassinato do casal, outras mortes chegaram às manchetes como as de Adelino Ramos no estado de Rondônia e de Nísion Gomes, um chefe indígena no estado do centro-oeste brasileiro, Mato Grosso do Sul. A CPT afirma que:
Pelo menos 8 das mortes estão diretamente relacionadas com a defesa do meio ambiente. Outras… 2 mortes são de quilombolas e [outras] 2 de indígenas…….A intervenção federal depois dos primeiros assassinatos não foi minimamente suficiente para inibir a ação dos grileiros, proprietários de terra e outros.
Um documentário de uma hora divulgado pelo site Vice (legendas em inglês) analisou em profundidade os conflitos. Uma entrevista que Maria do Espírito Santo deu quando estava viva está incluída no vídeo. Ela comentou como se sentia ao ser constantemente perseguida por causa do compromisso que ela e seu marido tinham contra a extração ilegal de madeira:
Há pessoas que continuam a dizer que não isto não vale a pena. Para mim vale. Para mim e para o meu marido certamente vale a pena. Eu sei que há um risco, eu não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Eu estaria mentindo se dissesse que não tenho medo.
Outras duas vítimas foram recentemente o centro das atenções: João Chupel Primo e Júnior José Guerra. O primeiro foi baleado e morreu em outubro do ano passado e o segundo teve de deixar sua comunidade no mês passado com sua família.
Por causa do crescimento e da Rio+20
Com as novas perspectivas de mudança no cenário internacional, o Estado brasileiro assumiu novo papel econômico e político conhecido como “soft power” (poder da persuasão). Como qualquer outro Estado-nação, o Brasil está sob pressão para aumentar seu Produto Interno Bruto (PIB) de forma a atrair investidores que comprem suas obrigações soberanas no mercado internacional.
O aumento do desmatamento na Amazônia. A Floresta Amazônica brasileira teve 5.850 km² de sua área jurídica desmatada entre agosto de 2009 e abril de 2010, de acordo com o INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais), Brasil. Foto de Ronie Luis Leite, copyright Demotix (julho 2007).
O aumento do desmatamento na Amazônia. A Floresta Amazônica brasileira teve 5.850 km² de sua área jurídica desmatada entre agosto de 2009 e abril de 2010, de acordo com o INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais), Brasil. Foto de Ronie Luis Leite, copyright Demotix (julho 2007).
Mas, enquanto alguns elogiam um crescimento econômico “sustentável”, outros consideram que a presidente Dilma Rousseff tem uma perspectiva de desenvolvimento enganosa.
Para o Assuntos Produtos da Mente, a produção orientada à exportação no Brasil “está passando por um processo de reprimarização da economia baseada na produção e exportação de produtos agrícolas e não ‘commodities' agrícolas (mineração), que é incapaz de financiar e promover o desenvolvimento sustentável e de solidariedade e atender às necessidades do povo brasileiro. “
Uma das iniciativas mais controversas é oprojeto de lei para alterar o código florestal atual. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) entregou uma carta aberta ao relator do projeto de lei proposto na semana passada, onde se lê:
A reforma do Código Florestal Brasileiro, tal como vem sendo processada no Congresso, sob a influência de grupos de pressão setoriais, representa a desregulação do setor do agronegócio com sérios riscos para o meio ambiente e para a própria produção agrícola. A proteção de áreas naturais está sendo consideravelmente diminuída e perde-se assim a oportunidade de produzir alimentos com mais eficiência e com sustentabilidade ambiental, o que deveria ser o grande diferencial da agricultura brasileira.
O Congresso brasileiro deveria votar o projeto esta semana, no entanto um pedido deadiamento acabou por atrasá-lo. A presidente Dilma quer que as novas regras sejam aprovadas antes da Conferência das Nações Unidas, a Rio+20.
Em junho próximo, a Rio+20 reunirá chefes de Estado no Brasil para discutir como o desenvolvimento sustentável pode vir junto com a preservação do meio ambiente e inclusão social. Em uma entrevista para o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) , a jornalista Eliane Brum disse:
O Brasil vai sediar a Rio+20 e no seu território está localizada a maior floresta tropical do mundo. E parte desta floresta é dominada pelo crime organizado; parte dela está manchada pelo sangue de brasileiros que lutaram por ela sem qualquer apoio do Estado e morreram por ela ao dizer –em vídeo– que iam morrer. Uma parte desta floresta –ipês e outras madeiras preciosas– estão sendo roubadas de áreas protegidas e muitas delas saem legalizadas dos portos brasileiros para a Europa. Se isto não é motivo para constrangimento ao receber uma conferência sobre meio ambiente, então o mundo é ainda mais cínico do que eu suspeitava.
A jornalista Amália Safatle lembra-nos que:
Por mais que países pobres e emergentes dependam do crescimento para corrigir seus passivos sociais, a questão do desenvolvimento implica muito mais em qualidade dos serviços disponíveis à população e à criação de oportunidades, em equilíbrio com o meio ambiente, do que em aumento da taxa do PIB. Até porque o PIB é uma régua extremamente ruim, pois registra como crescimento da economia de guerras a acidentes de trânsito.