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terça-feira, 20 de agosto de 2013

NELINHO MAIS UM MÁRTIR DE CORUMBIARA

Manoel Ribeiro, o grande Nelinho, nasceu no dia 11 de fevereiro de 1965 em Ferruginha,
município de Conselheiro Pena-MG, recém nascido mudou com a família para o estado do Paraná precisamente para cidade de Assis Chateaubriand-PR. Começou a trabalhar muito cedo na roça, em seguida em uma farmácia. Em janeiro de 1981 já na adolescência mudou com a família para Colorado do Oeste em Rondônia e trabalhou por dois anos na farmácia do popular Jô Sato já começando a angariar simpatia da população pelo seu carisma e pela forma com a qual atendia a todos sempre com muita cordialidade e um sorriso no rosto. 
Ainda menor, em meados de 1982 foi convidado para trabalhar na agência do Bradesco em Colorado, atuando diretamente com os colonos principalmente na pasta da carteira agrícola onde conquistou credibilidade e muita confiança. Tinha participação ativa no meio esportivo e no Grupo de Jovens de Colorado. Sua liderança junto aos seus colegas de trabalho ganhava forças. O início da década de 80 em nosso país foi marcante e passava por uma grande transformação social, era a plena ditadura e o povo clamava por mudanças e exigia a democracia, más a repressão era vertente. Esse período ainda era crucial e negro para a luta dos trabalhadores e o setor bancário não era diferente.
A formação do Sindicato dos Bancários em Rondônia foi a chave para que Nelinho se tornasse a liderança máxima da categoria no Cone Sul. Nesse período ingressou no Partido dos Trabalhadores de Colorado do Oeste, já fazendo parte do Diretório Municipal e ampliando seu peso de liderança. Porém, como a luta de esquerda naquele período era tido como subversiva e seus líderes eram implacavelmente perseguidos, mesmo com a queda do militarismo em 1985, e pelo fato do Nelinho ter liderado as grandes greves e inquietando seus superiores pela dita subversão, em 1986 Nelinho foi sumariamente demitido da agência do Bradesco. Montou um pequeno bar em Colorado onde era muito frequentado pelos amigos, mas, esse não era seu dom, preferiu ir pra roça e trabalhar com os pais no então Distrito de Nova Esperança, hoje Corumbiara.
Recomeçava aí uma nova luta, começando pelo Grupo de Jovens da igreja católica, em 1987 aliou-se ao movimento dos professores da Escola São Roque onde o embate com o poder local era fervilhante. Em 1988 começa a sua jornada em busca de um cargo político. Concorreu a uma vaga de vereador representando o Distrito de Nova Esperança e por apenas dois votos não foi eleito, mas, marcou terreno, ficou primeiro suplente.
Liderou as eleições de 1989 onde houve a disputa entre Lula/Collor onde mesmo com a derrota nacional em Nova Esperança Lula saiu vencedor, Nelinho ganhou mais pontos. Veio a emancipação de Nova Esperança em 1992 a qual se passou a chamar-se Corumbiara em homenagem ao rio que corta o município, fundou o PT em Corumbiara e com isso a eleição para a escolha do novo prefeito do recém-criado município.
O PT, em uma aliança com o PDT, lançou o comerciante Daniel Alencar com o vice do PT João Cacau. Nelinho concorreu a vereador e desta vez foi eleito, o único do PT de Corumbiara. Na câmara era basicamente o único que contestava os desmandos e abusos cometidos pela administração municipal da época e pela subserviência dos demais vereadores.
Em 1993 fundou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais juntamente com outros companheiros de luta composta por lideranças dos assentamentos Adriana, Vitória da União e Verde Seringal, que a partir daí esse sindicato tornou-se referência e um dos mais combativos do Estado de Rondônia, passando a somar forças e contribuir com a participação popular nas ações políticas na Câmara Municipal. O sindicato dos trabalhadores rurais, em sua base, enraizada com mais de 60 lideranças distribuídas através das comissões de linha, já em 1995 mobilizou-se para a ocupação da chamada Fazenda Santa Elina onde envolveu mais de 600 famílias, totalizando uma média de duas mil pessoas.
A partir daí entra o período de agonia. A ocupação em 15 de julho, em seguida a resistência e o massacre, ocorrido no dia 09 de agosto de 1995 pelas forças policiais do Estado e por jagunços. Pelos fatores de ter apoiado os sem-terra associado aos embates travados na Câmara Municipal, o vereador Nelinho entrou no rol dos marcados para morrer. Comentava-se que a cabeça de um líder de Santa Elina equivalia de vinte a trinta mil reais.
O assassinato de Nelinho era eminente, questão de dias. Na noite do dia 16 de dezembro de 1995 aconteceu o inevitável, uma tocaia covarde, vários tiros na noite, Nelinho de peito aberto, foi alvejado covardemente, tombou, mas não renegou seu legado de defender os mais humildes. Registrou na história de Corumbiara o exemplo de um guerreiro que não tinha medo da morte.

Fonte: Tirado do Facebook de João Ribeiro da Cidade de Corumbiara –
Autor do texto: JOÃO RIBEIRO DE AMORIM - Irmão de Nelinho
Vereador 2001/2004 – 2005/2008 – Vice-Prefeito 2009/2013
Atualmente Diretor Geral da Câmara Municipal de Corumbiara

Poderá ler também em: http://crabastosbrasil.blogspot.com.br/2013/08/nelinho-mais-um-martir-de-corumbiara.html 

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

18 ANOS DE INJUSTIÇA E HUMILHAÇÃO MASSACRE DE CORUMBIARA TEMTÃM EXCLUIR DA HISTORIA BRASILEIRA

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

FETAGRO registra 18 anos do Massacre de Corumbiara e cobra justiça social às vítimas


Registramos com atraso o relato da Fetagro sobre os 18 anos do Massacre de Corumbiara. Nela relatam o testemunho de Genadir Ribeiro, hoje presidente do sindicato de Corumbiara, que já foi conselheiro da CPT RO: "o massacre continua até hoje", diz fazendo referência as vítimas, entre elas irmãos da própria família. O dia 29 de agosto uma audiência pública será celebrada na Assembléia Legislativa para tratar das indenizações às vítimas.

No sindicato de Corumbiara em homenagem ao vereador Nelinho, irmão de Genadir Ribeiro. foto cpt ro

Um dos piores registros da história do Estado de Rondônia completa 18 anos nesta sexta-feira. O Massacre de Corumbiara, conflito agrário ocorrido no dia 9 de agosto de 1995 entre trabalhadores (as) rurais e policiais militares na área da fazenda Santa Elina, no município de Corumbiara, região Sul do Estado, ficou conhecido internacionalmente e marcou a história de luta pela conquista da terra em Rondônia.

Naquele dia, cerca de 600 trabalhadores rurais ocupantes da área, considerada improdutiva, foram surpreendidos durante a madrugada com o ataque de pistoleiros armados e soldados da Polícia Militar. Um violento confronto foi desencadeado, resultando em mortes, torturas, insultos e humilhações aos trabalhadores e trabalhadoras.

Segundo Genadir Ribeiro, presidente do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Corumbiara e irmão de três vítimas do episódio, “o massacre continua até hoje”. “Há muitas pessoas, sobreviventes, que carregam graves seqüelas físicas e psicológicas da tragédia vivida”, relatou. Genadir perdeu um irmão assassinado por defender os acampados e outros dois irmãos, que eram acampados da área, ainda carregam as lembranças do ataque e torturas vividas. “Amanhã é um dia de muita reflexão; de relembrar a morte de trabalhadores que lutavam por dias melhores, por um pedacinho de terra”, disse o dirigente.

Mas estes 18 anos foram, ainda, de muita luta para muitos trabalhadores rurais vítimas da tragédia ocorrida. Lutou-se pela desapropriação da fazenda para fim de reforma agrária e por indenização aos graves danos. Uma conquista foi alcançada no início de 2011, 16 anos após, com o assentamento de 417 famílias, nas áreas denominadas Zé Bentão e Maranatá, terras desmembradas da antiga Fazenda Santa Elina. E apesar da área ter sido adquirida pelo governo federal e destinada à reforma agrária, as famílias ainda aguardam a implantação de infraestrutura como estrada e energia elétrica.

Outra batalha que está sendo enfrentada é pela indenização das famílias das vítimas, e que no próximo dia 29, espera ganhar aliados com a realização de uma Audiência Pública, na Assembléia Legislativa do Estado. A audiência é uma solicitação da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Rondônia (FETAGRO), do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do município de Corumbiara e do presidente da Câmara Municipal de Corumbiara, vereador Valdinei Antônio Coelho (Nenzinho) para tratar sobre o assunto.

A FETAGRO tem estado à frente de ações que façam justiça aos vitimados do massacre, e entre as ações está o pedido de indenização das vítimas, por meio de processo judicial ajuizado em janeiro de 2011, mas que até hoje não foi concluso. Para o presidente da entidade, Fábio Menezes, “um dos desafios dessa audiência pública é fazer com o que o judiciário defina como favorável a instrução e julgamento do processo de indenização e que o estado repare essa enorme divida social”. A Federação intermedeia a ação de indenização para 204 vítimas, que não receberam assistência do poder público e muitas estão impossibilitadas de trabalharem devido as seqüelas de torturas físicas e psicológicas a que foram submetidas.

Fábio Menezes ressalta ainda a necessidade de aplicação da Lei 786, de junho de 1998, que prevê pagamento de pensão mensal as famílias dos assassinados, mas que não tem sido cumprida. “Penso que esta Lei poderia abranger a todas as vítimas e não somente aos que perderam seus familiares, pois tem vítimas que sofreram e sofrem até hoje com seqüelas como problemas psicológicos, pulmonares, cardíacos, após os horrores sofridos. Estaremos pautando essa mudança junto à Assembléia Legislativa”, afirmou.

O vereador Nenzinho destacou a importância de realizar a audiência como um momento de debate e encaminhamentos sobre a situação em que ainda vivem as vítimas do massacre, por acreditar que a retomada da discussão com os poderes, entidades e sociedade pode gerar medidas e ações que assistam às vítimas. “Nossa esperança é de que agora, com a audiência, consigamos agilizar o trâmite do processo de indenização. Não dá mais para esperar. Dezoito anos já se passaram e as famílias ainda estão desassistidas”, protestou.

Para o dirigente Genadir Ribeiro, a expectativa é conseguir sensibilizar as autoridades para a importância e necessidade das indenizações, que poderão contribuir para que as vítimas e familiares vivam em condições melhores. “A indenização não vai reparar o dano causado, mas acreditamos que amenizará um pouco o sofrimento das pessoas”, disse.

Fonte: Assessoria FETAGRO

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Ato relembra 18 anos do massacre de Corumbiara Vergonha Para O Brasil,RAUPP Governador da Epoca Hoje senador e nem ai com os Camponeses

Missa em Corumbiara pelas vítimas do Massacre



Transformado em feriado municipal de Corumbiara, nesta sexta feira, dia 09 de Agosto, se celebrará uma missa Na Igreja Matriz, às 09:00 horas da manhá em memória das vítimas. Para o dia 29 de agosto está planejada audiência pública na Câmara Legislativa para tratar sobre as indenizações às vítimas do Massacre

Massacre de Corumbiara: Fotografia divulgada por João Ribeiro.


Recolhemos uma matéria escrita por João Ribeiro de Amorim: "Nesta sexta feira dia 09 de agosto, o município de Corumbiara celebrará os 18 anos do mundialmente conhecido "Massacre de Corumbiara". Esta chacina vitimou vários trabalhadores rurais sem terra. Várias execuções sumárias e torturas cometidas pelo estado em noma da "Lei e da Ordem" ocorreu impunemente. A pequena Vanessa de apenas 06 anos foi transpassada covardemente com um tiro nas costas efetuadas pelos algozes. Torturas físicas e psicológicas que ficarão marcadas para sempre na memória principalmente das vítimas, entre elas várias crianças na época. Porém, até hoje o trauma ainda paira sobre a população corumbiarense. Nenhuma vítima foi indenizada ou reparada pelo Estado pela tamanha barbaridade.... Passaram-se os governos, RAUPP, BIANCO, CASSOL e agora o CONFÚCIO....... E as autoridades insistem em abafar e levar ao esquecimento esta história negra que manchou o estado de Rondônia..... a indenização seria o mínimo que as autoridades pudessem fazer pra minimizar o sofrimento das vítimas, más, infelizmente até agora nada!!!!
Corumbiara jamais esquecerá... !!!
Em Corumbiara, neste dia 09 de agosto acontecerá uma grandiosa missa na Igreja Matriz de Corumbiara, Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a partir das 09:00 horas da manhã, em um ato em memória dessas vítimas".

JOÃO RIBEIRO DE AMORIM, Diretor Geral da Câmara Municipal de Corumbiara


Por outro lado, Audiência Pública será realizada na Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia, para tratar sobre as idenizações das vítimas de Corumbiara será realizada o dia 29 de agosto, em virtude da realização de mais uma edição do “Grito da Terra” que será realizado nos dias 27 e 28 do mês de agosto.
A audiência pública para tratar sobre as indenizações das vitimas do “massacre de Corumbiara”, ocorrido em agosto de 1995, foi solicitação do presidente da Câmara Municipal de Corumbiara, vereador Nenzinho (PT), que destacou a importância de realizar esse momento de debate e encaminhamentos sobre a situação em que ainda vivem as vítimas do massacre, por acreditar que a retomada da discussão com os poderes, entidades e sociedade pode gerar medidas e ações que assistam às vítimas.




Então,

Chegou-se, aliás, chegamos mais uma vez ao dia 09 de agosto. Há 18 Rondônia tornara-se motivo de noticias para o Brasil e o mundo, com o conflito de Corumbiara. O que se pode ver e ouvir, em relação à terra, 18 anos depois?

Sabemos que a violência no campo não cessou. Talvez mudaram-se os métodos de praticar violência, contra os pequenos e pobres, além daqueles que já sabemos: prisões, despejos, emboscadas, mortes.... Hoje, de modo mais formal, a violência é legalizada e institucionalizada (liminares, reintegração de posse, e é claro, sempre em favor do seu senhor).

O esvaziamento do campo, sem dúvidas, configura a legalização da expulsão das famílias com a prática da retirada das Escolas Rurais, seguida de uma “educação” descontextualizada do biossistema amazônico com tudo o que envolve a vida do povo, objetiva e subjetivamente.

A grande chaga da nossa Amazônia continua sendo o problema da terra, não que ela nos falte, mas que cada vez mais torna-se privativa os donos do capital e do poder, em detrimento de quem necessita dela para viver. E as cidades, cada dia mais, vão recebendo dezenas de centenas de famílias sujeitas a toda forma de insultos políticos, sociais, econômicos e culturais.



“Amazônia, amamos você, contigo queremos viver, hoje e sempre! Empresta-nos do teu verde que ainda resta, desta minguada floresta, e tingiremos nossa ponta de esperança. /De Rondônia ao Amapá, do Acre ao Pará, do Tocantins a Roraima, passando pelo Amazonas caminhamos por trilhas e estradas, numa mistura sagrada de gritos e de danças./ Mártires da caminhada por aqui deixaram rastros de sonhos,/ em cada manhã renascem em nós os seus sonhos de uma nova Amazônia possível e necessária, por Carajás e Corumbiara, um Novo Dia irá chegar. Amazônia será livre dos grilos e saques, de emboscadas e ataques de quem não teme a divindade-Criadora que reina em seu solo, suas águas e suas matas. Amazônia das lendas/Amazônia das tendas que armamos aqui,/ assumimos seus “ais”, com os povos tradicionais,/ de aldeias e comunidades, uniremos campo e cidade para que toda a vida possa ressurgir”.

(Zé Aparecido)




Massacre de Corumbiara: Fotografias divulgadas por João Ribeiro.


quinta-feira, 27 de junho de 2013

LULA CONVOCA MOVIMENTOS SOCIAIS PARA IR ÀS RUAS,CADE OS MOVIMENTOS SOCIAIS?VAMOS COMPANHEIROS A HORA E AGORAAAAAAAAAAA

quarta-feira, 26 de junho de 2013

É hora do governo aliar-se ao povo ou pagará a fatura no futuro. Essa é uma das avaliações de João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Brasil de Fato – Como você analisa as recentes manifestações que vêm sacudindo o Brasil nas últimas semanas? Qual é a base econômica para elas terem acontecido?

   
   João Pedro Stedile, da coordenação do MST - Foto: José Cruz/ABr
João Pedro Stedile – Há muitas avaliações sobre por que estão ocorrendo estas manifestações. Me somo à análise da professora Ermínia Maricato, que é nossa maior especialista em temas urbanos e já atuou no Ministério das Cidades na gestão Olívio Dutra. Ela defende a tese de que há uma crise urbana instalada nas cidades brasileiras, provocada por essa etapa do capitalismo financeiro. Houve uma enorme especulação imobiliária que elevou os preços dos aluguéis e dos terrenos em 150% nos últimos três anos. O capital financiou – sem nenhum controle governamental – a venda de automóveis para enviar dinheiro para o exterior e transformou nosso trânsito um caos. E, nos últimos dez anos, não houve investimento em transporte público. O programa habitacional Minha casa, minha vida empurrou os pobres para as periferias, sem condições de infraestrutura. Tudo isso gerou uma crise estrutural, em que as pessoas estão vivendo um inferno nas grandes cidades, perdendo três, quatro horas por dia no trânsito, quando poderiam estar com a família, estudando ou tendo atividades culturais. Somado a isso, a péssima qualidade dos serviços públicos, em especial na saúde e mesmo na educação, desde a escola fundamental, ensino médio, em que os estudantes saem sem saber fazer uma redação. E o ensino superior virou loja de vendas de diplomas a prestações, onde estão 70% dos estudantes universitários.

Do ponto de vista político, por que isso aconteceu?
Os 15 anos de neoliberalismo e mais os últimos dez anos de um governo de composição de classes transformou a forma de fazer política em refém apenas dos interesses do capital. Os partidos ficaram velhos em suas práticas e se transformaram em meras siglas que aglutinam, em sua maioria, oportunistas para ascender a cargos públicos ou disputar recursos públicos para seus interesses. Toda a juventude nascida depois das Diretas Já não teve oportunidade de participar da política. Hoje, para disputar qualquer cargo, por exemplo, o de vereador, o sujeito precisa ter mais de um milhão de reais. O de deputado custa ao redor de dez milhões de reais. Os capitalistas pagam e depois os políticos os obedecem. A juventude está de saco cheio dessa forma de fazer política burguesa, mercantil. Mas o mais grave foi que os partidos da esquerda institucional, todos eles, se moldaram a esses métodos. Envelheceram e se burocratizaram. E, portanto, gerou na juventude uma ojeriza à forma dos partidos atuarem. E eles têm razão. A juventude não é apolítica, ao contrário, tanto é que levou a política para as ruas, mesmo sem ter consciência do seu significado. Mas está dizendo que não aguenta mais assistir na televisão essas práticas políticas que sequestraram o voto das pessoas, baseadas na mentira e na manipulação. E os partidos de esquerda precisam reapreender que seu papel é organizar a luta social e politizar a classe trabalhadora. Senão cairão na vala comum da história.

E por que as manifestações eclodiram somente agora?
Provavelmente tenha sido mais pela soma de diversos fatores de caráter da psicologia de massas, do que por alguma decisão política planejada. Somou-se todo o clima que comentei, mais as denúncias de superfaturamento das obras dos estádios, que é são um acinte ao povo. Vejam alguns episódios. A Rede Globo recebeu do governo do estado do Rio de Janeiro e da prefeitura R$ 20 milhões do dinheiro público para organizar o showzinho de apenas duas horas do sorteio dos jogos da Copa das Confederações. O estádio de Brasília custou R$ 1,4 bilhão e não tem ônibus na cidade! A ditadura explícita e as maracutaias que a Fifa/CBF impuseram e que os governos se submeteram. A reinauguração do Maracanã foi um tapa no povo brasileiro. As fotos eram claras, no maior templo do futebol mundial não havia nenhum negro ou mestiço! E aí o aumento das tarifas de ônibus foi apenas a faísca para acender o sentimento generalizado de revolta, de indignação. A gasolina para a faísca veio do governo tucano Geraldo Alckmin, que protegido pela mídia paulista que ele financia, e acostumado a bater no povo impunemente – como fez no Pinheirinho e em outros despejos rurais e urbanos – jogou sua polícia para a barbárie. Aí todo mundo reagiu. Ainda bem que a juventude acordou. E nisso houve o mérito do Movimento Passe Livre, que soube capitalizar essa insatisfação popular e organizou os protestos na hora certa.

Por que a classe trabalhadora ainda não foi à rua?
É verdade, a classe trabalhadora ainda não foi para a rua. Quem está na rua são os filhos da classe média, da classe media baixa, e também alguns jovens do que o Andre Singer chamaria de subproletariado, que estudam e trabalham no setor de serviços, que melhoraram as condições de consumo, mas querem ser ouvidos. Esses últimos apareceram mais em outras capitais e nas periferias. A redução da tarifa interessava muito a todo o povo e esse foi o acerto do Movimento Passe livre, soube convocar mobilizações em nome dos interesses do povo. E o povo apoiou as manifestações. Isso está expresso nos índices de popularidade dos jovens, sobretudo quando foram reprimidos. A classe trabalhadora demora a se mover, mas quando se move afeta diretamente o capital. Coisa que ainda não começou acontecer. Acho que as organizações que fazem a mediação com a classe trabalhadora ainda não compreenderam o momento e estão um pouco tímidas. Mas a classe, como classe, acho que está disposta a também lutar. Veja que o número de greves por melhorias salariais já recuperou os padrões da década de 1980. Acho que é apenas uma questão de tempo, é só as mediações acertarem nas bandeiras que possam motivar a classe a se mexer. Nos últimos dias já se percebe que em algumas cidades menores e nas periferias das grandes cidades já começam a ter manifestações com bandeiras de reivindicações bem localizadas. E isso é muito importante.

Vocês do MST e dos camponeses também não se mexeram ainda...
É verdade. Nas capitais onde temos assentamentos e agricultores familiares mais próximos já estamos participando. Inclusive, sou testemunha de que fomos muito bem recebidos com nossa bandeira vermelha e com nossa reivindicação de reforma agrária, alimentos saudáveis e baratos para todo o povo. Acho que nas próximas semanas poderá haver uma adesão maior, inclusive realizando manifestações dos camponeses nas rodovias e municípios do interior. Na nossa militância está todo mundo doido para entrar na briga e se mobilizar. Espero que também se mexam logo.

Na sua opinião, qual é a origem da violência que tem acontecido em algumas manifestações?
Primeiro vamos relativizar. A burguesia, através de suas televisões, tem usado a tática de assustar o povo colocando apenas a propaganda dos baderneiros e quebra-quebra. São minoritários e insignificantes diante das milhares de pessoas que se mobilizaram. Para a direita, interessa colocar no imaginário da população que isso é apenas bagunça e no final, se tiver caos, colocar a culpa no governo e exigir a presença das Forças Armadas. Espero que o governo não cometa essa besteira de chamar a guarda nacional e as Forças Armadas para reprimir as manifestações. É tudo o que a direita sonha! Quem está provocando as cenas de violência é a forma de intervenção da Policia Militar. A PM foi preparada desde a ditadura militar para tratar o povo sempre como inimigo. E nos estados governados pelos tucanos (SP, RJ e MG), ainda tem a promessa de impunidade. Há grupos direitistas organizados com orientação de fazer provocações e saques. Em são Paulo, atuaram grupos fascistas e leões de chácaras contratados. No Rio de Janeiro, atuaram as milícias organizadas que protegem seus políticos conservadores. E claro, há também um substrato de lumpesinato que aparece em qualquer mobilização popular, seja nos estádios, carnaval, até em festa de igreja, tentando tirar seus proveitos.

PM reprime manifestação em frente ao estádio Mané Garrincha, em Brasília (DF) - Foto: Felipe Canova
Há, então, uma luta de classes nas ruas ou é apenas a juventude manifestando sua indignação?
É claro que há uma luta de classes na rua. Embora ainda concentrada na disputa ideológica. E o que é mais grave, a própria juventude mobilizada, por sua origem de classe, não tem consciência de que está participando de uma luta ideológica. Eles estão fazendo política da melhor forma possível, nas ruas. E aí escrevem nos cartazes: somos contra os partidos e a política? Por isso têm sido tão difusas as mensagens nos cartazes. Está ocorrendo, em cada cidade, em cada manifestação, uma disputa ideológica permanente da luta dos interesses de classes. Os jovens estão sendo disputados pelas ideias da direita e pela esquerda. Pelos capitalistas e pela classe trabalhadora. Por outro lado, são evidentes os sinais da direita muito bem articulada e de seus serviços de inteligência, que usam a internet, se escondem atrás das máscaras e procuram criar ondas de boatos e opiniões pela internet. De repente, uma mensagem estranha alcança milhares de mensagens. E aí se passa a difundir o resultado como se ela fosse a expressão da maioria. Esses mecanismos de manipulação foram usados pela CIA e pelo Departamento de Estado Estadunidense, na Primavera Árabe, na tentativa de desestabilização da Venezuela, na guerra da Síria. É claro que eles estão operando aqui também para alcançar os seus objetivos.

E quais são os objetivos da direita e suas propostas?
A classe dominante, os capitalistas, os interesses do império Estadunidense e seus porta-vozes ideológicos, que aparecem na televisão todos os dias, têm um grande objetivo: desgastar ao máximo o governo Dilma, enfraquecer as formas organizativas da classe trabalhadora, derrotar quaisquer propostas de mudanças estruturais na sociedade brasileira e ganhar as eleições de 2014, para recompor uma hegemonia total no comando do Estado brasileiro, que agora está em disputa. Para alcançar esses objetivos, eles estão ainda tateando, alternando suas táticas. Às vezes, provocam a violência para desfocar os objetivos dos jovens.
Às vezes, colocam nos cartazes dos jovens a sua mensagem. Por exemplo, a manifestação do sábado (22), embora pequena, em São Paulo, foi totalmente manipulada por setores direitistas que pautaram apenas a luta contra a PEC 37, com cartazes estranhamente iguais e palavras de ordem iguais. Certamente, a maioria dos jovens nem sabem do que se trata. E é um tema secundário para o povo, mas a direita está tentando levantar as bandeiras da moralidade, como fez a UDN em tempos passados. Isso que já estão fazendo no Congresso, logo, logo vão levar às ruas. Tenho visto nas redes sociais controladas pela direita, que suas bandeiras, além da PEC 37 são: saída do Renan do Senado; CPI e transparência dos gastos da Copa; declarar a corrupção crime hediondo e fim do foro especial para os políticos. Já os grupos mais fascistas ensaiam Fora Dilma e abaixo-assinados pelo impeachment. Felizmente, essas bandeiras não têm nada a ver com as condições de vida das massas, ainda que elas possam ser manipuladas pela mídia. E, objetivamente podem ser um tiro no pé. Afinal, é a burguesia brasileira, seus empresários e políticos que são os maiores corruptos e corruptores. Quem se apropriou dos gastos exagerados da copa? A Rede Globo e as empreiteiras!

Nesse cenário, quais os desafios que estão colocados para a classe trabalhadora e as organizações populares e partidos de esquerda?
Os desafios são muitos. Primeiro devemos ter consciência da natureza dessas manifestações e irmos todos para a rua disputar corações e mentes para politizar essa juventude que não tem experiência na luta de classes. Segundo, a classe trabalhadora precisa se mover, ir para a rua, manifestar-se nas fábricas, campos e construções, como diria Geraldo Vandré. Levantar suas demandas para resolver os problemas concretos da classe, do ponto de vista econômico e político. Terceiro, precisamos explicar para o povo quem são os principais inimigos do povo. E agora são os bancos, as empresas transnacionais que tomaram conta de nossa economia, os latifundiários do agronegócio e os especuladores. Precisamos tomar a iniciativa de pautar o debate na sociedade e exigir a aprovação do projeto de redução da jornada de trabalho para 40 horas; exigir que a prioridade de investimentos públicos seja em saúde, educação, reforma agrária. Mas para isso, o governo precisa cortar juros e deslocar os recursos do superávit primário, aqueles R$ 200 bilhões que todo ano vão para apenas 20 mil ricos, rentistas, credores de uma dívida interna que nunca fizemos, deslocar para investimentos produtivos e sociais. É isso que a luta de classes coloca para o governo Dilma: os recursos públicos irão para a burguesia rentista ou para resolver os problemas do povo? Aprovar em regime de urgência para que vigore nas próximas eleições uma reforma política de fôlego, que, no mínimo institua o financiamento publico exclusivo da campanha. Direito a revogação de mandatos e plebiscitos populares autoconvocados. Precisamos de uma reforma tributaria que volte a cobrar ICMS das exportações primárias e penalize a riqueza dos ricos, e amenize os impostos dos pobres, que são os que mais pagam. Precisamos que o governo suspenda os leilões do petróleo e todas as concessões privatizantes de minérios e outras áreas publicas. De nada adianta aplicar todo os royalties do petróleo em educação, se os royalties representarão apenas 8% da renda petroleira, e os 92% irão para as empresas transnacionais que vão ficar com o petróleo nos leilões! Uma reforma urbana estrutural, que volte a priorizar o transporte público, de qualidade e com tarifa zero. Já está provado que não é caro, e nem difícil instituir transporte gratuito para as massas das capitais. E controlar a especulação imobiliária. E, finalmente, precisamos aproveitar e aprovar o projeto da Conferência Nacional de Comunicação, amplamente representativa, de democratização dos meios de comunicação. Assim, acabar com o monopólio da Globo, para que o povo e suas organizações populares tenham amplo acesso a se comunicar, criar seus próprios meios de comunicação, com recursos públicos. Ouvi de diversos movimentos da juventude que estão articulando as marchas que talvez essa seja a única bandeira que unifica a todos: abaixo o monopólio da Globo! Mas, para que essas bandeiras tenham ressonância na sociedade e pressionem o governo e os políticos, é imprescindível a classe trabalhadora se mover.

O que o governo deveria fazer agora?
Espero que o governo tenha a sensibilidade e a inteligência de aproveitar esse apoio, esse clamor que vem das ruas, que é apenas uma síntese de uma consciência difusa na sociedade, que é hora de mudar. E mudar a favor do povo. Para isso o governo precisa enfrentar a classe dominante, em todos os aspectos. Enfrentar a burguesia rentista, deslocando os pagamentos de juros para investimentos em áreas que resolvam os problemas do povo. Promover logo as reformas políticas, tributárias. Encaminhar a aprovação do projeto de democratização dos meios de comunicação. Criar mecanismos para investimento pesados em transporte público, que encaminhem para a tarifa zero. Acelerar a reforma agrária e um plano de produção de alimentos sadios para o mercado interno. Garantir logo a aplicação de 10% do PIB em recursos públicos para a educação em todos os níveis, desde as cirandas infantis nas grandes cidades, ensino fundamental de qualidade até a universalização do acesso dos jovens a universidade pública. Sem isso, haverá uma decepção e o governo entregará para a direita a iniciativa das bandeiras, que levarão a novas manifestações, visando desgastar o governo até as eleições de 2014. É hora do governo aliar-se ao povo ou pagará a fatura no futuro.

E que perspectivas essas mobilizações podem levar para o país nos próximos meses?
Tudo ainda é uma incógnita, porque os jovens e as massas estão em disputa. Por isso que as forças populares e os partidos de esquerda precisam colocar todas suas energias, para ir para a rua. Manifestar-se, colocar as bandeiras de luta de reformas que interessam ao povo. Porque a direita vai fazer a mesma coisa e colocar as suas bandeiras conservadoras, atrasadas, de criminalização e estigmatização das ideias de mudanças sociais. Estamos em plena batalha ideológica, que ninguém sabe ainda qual será o resultado. Em cada cidade, em cada manifestação, precisamos disputar corações e mentes. E quem ficar de fora, ficará de fora da historia.
Foto: Marcelo Camargo/ABr

O significado e as perspectivas das mobilizações de rua

Para João Pedro Stedile, a juventude mobilizada, por sua origem de classe, não tem consciência de que está participando de uma luta ideológica. Assim, estão sendo disputados pelas ideias da direita e da esquerda
25/06/2013

Nilton Viana
da Redação

É hora do governo aliar-se ao povo ou pagará a fatura no futuro. Essa é uma das avaliações de João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre as recentes mobilizações em todo o país. Segundo ele, há uma crise urbana instalada nas cidades brasileiras, provocada por essa etapa do capitalismo financeiro. “As pessoas estão vivendo um inferno nas grandes cidades, perdendo três, quatro horas por dia no trânsito, quando poderiam estar com a família, estudando ou tendo atividades culturais”, afirma. Para o dirigente do MST, a redução da tarifa interessava muito a todo o povo e esse foi o acerto do Movimento Passe livre, que soube convocar mobilizações em nome dos interesses do povo.
Nesta entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Stedile fala sobre o caráter dessas mobilizações, e faz um chamamento: devemos ter consciência da natureza dessas manifestações e irmos todos para a rua disputar corações e mentes para politizar essa juventude que não tem experiência da luta de classes. “A juventude está de saco cheio dessa forma de fazer política burguesa, mercantil”, constata. E faz uma alerta: o mais grave foi que os partidos da esquerda institucional, todos eles, se moldaram a esses métodos. Envelheceram e se burocratizaram. As forças populares e os partidos de esquerda precisam colocar todas as suas energias para ir para a rua, pois está ocorrendo, em cada cidade, em cada manifestação, uma disputa ideológica permanente da luta dos interesses de classes. “Precisamos explicar para o povo quem são os principais inimigos do povo”

sexta-feira, 14 de junho de 2013

VIOLÊNCIA Repórter atingida por bala de borracha nos olhos passa bem por Redação da RBA publicado 14/06/2013 10:02, última modificação 14/06/2013 10:13

©FOLHA.COM
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São Paulo – A repórter Giuliana Vallone, da TV Folha, atingida nos olhos por uma bala de borracha disparada pela Polícia Militar durante a repressão à manifestação contra a alta das passagens de ônibus na capital, publicou seu relato pessoal sobre os episódios da noite da quinta-feira (13). Em seu perfil no Facebook, ela comunicou também que, aparentemente, não sofrerá sequelas do ferimento. "Felizmente, meu globo ocular não aparenta nenhum dano."
Giuliana protagonizou um dos muitos casos de agressão policial a profissionais de imprensa que estavam trabalhando na cobertura do quarto dia de protestos organizados pelo Movimento Passe Livre, contra o aumento da passagem de ônibus em São Paulo, em vigor desde o dia 2.
Leia também:
A repórter da Folha conta também que foi alvejada em um momento em que não havia "nenhuma manifestação violenta ao meu redor", reforçando os testemunhos de excessos policiais cometidos durante o ato público.
Giuliana Vallone agradece a solidariedade e apoio recebidos e finaliza sua mensagem com um recado: "Acho que o que aconteceu comigo, outros jornalistas e manifestantes, mostra que existem, sim, um lado certo e um errado nessa história. De que lado você samba?".
Leia a íntegra da nota da jornalista
Queridos,
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a todas as manifestações de carinho e preocupação recebidas dos amigos e também de pessoas que não tive a oportunidade de conhecer. Vocês são incríveis.

Agora, o boletim médico: passei a noite no hospital em observação. A tomografia mostrou que não há fraturas nem danos neurológicos. A maior preocupação era o comprometimento do meu olho, que sofreu uma hemorragia por causa da pancada. Felizmente, meu globo ocular não aparenta nenhum dano. E agora, ao acordar, percebi a coisa mais incrível: já consigo enxergar com o olho afetado, o que não acontecia quando cheguei aqui. Fora isso, estou muito inchada e tomei alguns pontos na pálpebra. 

Sobre o aconteceu: já tinha saído da zona de conflito principal --na Consolação, em que já havia sido ameaçada por um policial por estar filmando a violência-- quando fui atingida. Estava na Augusta com pouquíssimos manifestantes na rua. Tentei ajudar uma mulher perdida no meio do caos e coloquei ela dentro de um estacionamento. O Choque havia voltado ao caminhão que os transportava. Fui checar se tinham ido embora quando eles desceram de novo. Não vi nenhuma manifestação violenta ao meu redor, não me manifestei de nenhuma forma contra os policiais, estava usando a identificação da Folha e nem sequer estava gravando a cena. Vi o policial mirar em mim e no querido colega Leandro Machado e atirar. Tomei um tiro na cara. O médico disse que os meus óculos possivelmente salvaram meu olho.

Cobri os dois protestos nesta semana. Não me arrependo nem um pouco de participar desta cobertura (embora minha família vá pirar com essa afirmação). Acho que o que aconteceu comigo, outros jornalistas e manifestantes, mostra que existem, sim, um lado certo e um errado nessa história. De que lado você samba?

http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2013/06/reporter-atingida-por-bala-de-borracha-nos-olhos-passa-bem-509.html

sexta-feira, 7 de junho de 2013

DIPLOMACIA Ex-ministro Paulo Vannuchi é eleito para comissão de direitos humanos da OEA



Analista político vai exercer mandato de 2014 a 2017 e promete buscar equilíbrio entre vítimas e Estados. Com Roberto Azevêdo na OMC, é a segunda vitória da diplomacia brasileira em menos de 30 dias
por João Peres, da RBA publicado 07/06/2013 07:14, última modificação 07/06/2013 09:10
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Paulo Vannuchi
O novo integrante da Comissão de Direitos Humanos da OEA, Paulo Vannuchi, quando ainda era ministro do governo Lula
São Paulo – O ex-ministro Paulo Vannuchi foi anunciado ontem (6) à noite como um dos três novos integrantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). A escolha ocorreu durante a Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Antigua, na Guatemala. Vannuchi vai cumprir mandato de 2014 a 2017 ao lado de James Cavallaro, dos Estados Unidos, e do reeleito José de Jesús Orozco Henríquez, do México.
"Essa vitória é de muita importância, pois reforça a participação do Brasil nas discussões de Direitos Humanos do nosso continente", disse a ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em nota emitida pelo governo federal. "Paulo Vannuchi tem sua história de vida ligada aos direitos humanos. Vannuchi foi um grande ministro para o Brasil e, com certeza, será muito importante na Comissão Interamericana de Direitos Humanos."
Aos 63 anos, o ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos de Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2005 e 2010, teve a seu favor o histórico de militante e de estudioso do tema. O jornalista foi preso na década de 1970 pela resistência à ditadura (1964-1985). Naquele período, foi um dos 34 signatários do manifesto entregue à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) denunciando os nomes de 233 torturadores.
Em seguida, já na fase final do regime, foi um dos organizadores do livro-documento Brasil Nunca Mais. Trata-se de um trabalho construído em segredo, com o apoio do então cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, a partir dos processos movidos pela repressão contra os presos políticos. Os arquivos do Judiciário reveleram a identidade de violadores de direitos humanos e a prática sistemática de tortura.
A redemocratização e a fundação do PT levaram Vannuchi a prestar assessoria política a Lula, ao partido e a sindicatos e outras organizações da sociedade civil, até a nomeação para o ministério. Após deixar o governo, passou a ser colaborador da Rádio Brasil Atual e da TVTcom comentários diários sobre o cenário político do país.
Em entrevista à RBA concedida antes da viagem à Guatemala, ele afirmou que a comissão precisa retomar o trabalho de mediadora, que perdeu de vista para adotar o alinhamento automático às vítimas de violações de direitos humanos.
Além disso, avalia Vannuchi, a Venezuela se equivocou ao ameaçar deixar o sistema regional, mas tem razão em suas queixas sobre o papel que os Estados Unidos exercem sobre a comissão. “Houve um desequilíbrio entre as duas funções básicas do sistema, que são a defesa dos direitos humanos, quando eles são violados, e a promoção, com ações antes de eles serem violados. Na falta de dinheiro, apareceram doações, mas elas vieram para um item: liberdade de imprensa. E pegaram a Venezuela como espécie de bode expiatório. Qualquer que seja o problema da Venezuela, é um governo de sensibilidade popular, social, de anteposição à hegemonia norte-americana na região.”
A CIDH, com sede em Washington, nos Estados Unidos, tem sete integrantes e é um dos dois organismos do sistema interamericano de direitos humanos. A comissão funciona como um órgão de mediação entre Estados e vítimas de violações dos direitos básicos. No geral, causas são aceitas quando há clara negação do direito de defesa, esgotamento da possibilidade de recursos ou morosidade do sistema judicial. Caso não se chegue a uma solução amistosa após as recomendações emitidas pelo colegiado, o caso segue para a Corte Interamericana, sediada em San José, na Costa Rica.
Em 2011, sugestões feitas pela CIDH sobre a Usina Hidrelétrica de Belo Monte provocaram irritação no governo Dilma Rousseff, que decidiu retirar a candidatura de Vannuchi, interrompendo um período de 16 anos de presença brasileira na comissão – entre 1995 e 2002, o jurista Hélio Bicudo exerceu a função, sucedido pelo cientista político Paulo Sérgio Pinheiro.
“A força da candidatura é principalmente pelo respeito pelo Brasil e a vontade clara do sistema de ter o Brasil dentro. Se o Brasil não fica dentro, participando ativamente, é como se o sistema ficasse faltando uma parte do próprio corpo, fragilizado”, disse Vannuchi durante a entrevista concedida em 22 de maio, na qual considerou ainda que a postura de Dilma acabou tendo um resultado favorável por suscitar discussões sobre o desequilíbrio nas atitudes da CIDH.
A eleição é a segunda vitória da diplomacia brasileira em menos de 30 dias. No dia 8 de maio Roberto Azevêdo foi eleito para o cargo de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Foi a primeira vez que um representante do continente americano chegou ao posto mais alto do órgão.


http://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2013/06/ex-ministro-paulo-vannuchi-e-eleito-para-comissao-de-direitos-humanos-da-oea-7852.html

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Ex-ministro de Lula quer buscar equilíbrio em comissão de direitos humanos da OEA

Paulo Vannuchi, candidato a uma das três vagas em disputa no dia 6, afirma que órgão regional adotou alinhamento automático às vítimas, perdendo de vista função de mediador
por João Peres, da RBA publicado 24/05/2013 11:12, última modificação 24/05/2013 11:19
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http://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2013/05/ex-ministro-de-lula-quer-

MARCELLO CASAL/ABR
paulo vannuchi
Ex-ministro Paulo Vannuchi disputa uma vaga na OEA
São Paulo – Equilíbrio é a expressão que Paulo Vannuchi escolheu para guiar sua candidatura a uma vaga na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Ministro da Secretaria de Direitos Humanos no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (2007-10), Vannuchi carrega a vontade do Brasil de retornar ao sistema regional de proteção de direitos básicos e de guiar este mesmo sistema a uma mudança que garanta equidade.
A retirada da candidatura dele por Dilma Rousseff em 2011 e os crescentes protestos das nações bolivarianas, lideradas pela Venezuela, contra decisões das entidades da Organização dos Estados Americanos (OEA) são, na visão de Vannuchi, resultado desta assimetria. “A comissão deixou escapar um pouco uma posição indispensável de ser um terceiro elemento. Por mais simpatia que ela tenha pelo ponto de vista dos peticionários, das vítimas, ela não podia se alinhar automaticamente”, avalia, em entrevista concedida à RBA, à TVT e ao ABCD Maior.
Há dois anos, quando Vannuchi tinha tudo para conquistar uma das sete vagas – três são colocadas em disputa a cada biênio –, o governo brasileiro ficou irritado com os pedidos da CIDH a respeito da usina hidrelétrica de Belo Monte. A leitura do órgão regional de que as obras deveriam ser paralisadas para que se promovesse consulta prévia aos ribeirinhos e indígenas afetados foi recebida a contragosto no Palácio do Planalto, que decidiu retirar a candidatura brasileira e secar as colaborações financeiras à comissão.
Em março deste ano, com a abertura de disputa para três novas vagas, o país decidiu recolocar o nome do ex-ministro. “A candidatura de Paulo Vannuchi expressa o compromisso do Brasil com o fortalecimento do Sistema Interamericano de Direitos Humanos”, disse o comunicado do Itamaraty. Além do Brasil, Estados Unidos, Equador, Peru, México e Colômbia apresentaram postulantes. Cada um dos 34 membros plenos da OEA votará três vezes no próximo dia 6 de junho, na cidade de Antigua, na Guatemala, e os três com maior número de apoios exercerão mandato em Washington entre 2014 e 2017.
Vannuchi foi integrante da Ação Libertadora Nacional (ALN) na resistência à ditadura e um dos organizadores do livro-documento Brasil nunca mais, lançado em 1979, durante a repressão, e leva na bagagem a boa avaliação da diplomacia brasileira no exterior. “A força da candidatura é principalmente pelo respeito pelo Brasil e a vontade clara do sistema de ter o Brasil dentro. Se o Brasil não fica dentro, participando ativamente, é como se o sistema ficasse faltando uma parte do próprio corpo, fragilizado”, diz o colunista da Rádio Brasil Atual e da TVT.
Os integrantes da comissão recebem as causas apresentadas pela sociedade, no geral aceitas quando há clara negação do direito de defesa, esgotamento da possibilidade de recursos ou morosidade do sistema judicial. A CIDH busca soluções amistosas entre Estados e vítimas e, quando isso não é possível, o caso é encaminhado à Corte Interamericana.
Neste sentido, Vannuchi descarta qualquer conexão entre a candidatura e o julgamento da Ação Penal 470, sobre o chamado mensalão, como chegou a ser especulado por alguns veículos da mídia tradicional. Aventou-se a possibilidade de que o ex-ministro pudesse ajudar os réus condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que poderiam apelar ao sistema regional alegando que no âmbito interno não tiveram direito a recurso. “Não tem nenhuma vinculação com as coisas, porque é uma regra de ouro do sistema: deixar as pessoas do mesmo país de fora – e fora mesmo. Quando o caso é debatido a pessoa não participa das sessões e todos tomam muito cuidado.”
Durante uma hora e meia de conversa, na última quarta-feira (22), Vannuchi comentou os principais pontos de sua candidatura e do trabalho que pretente desenvolver caso seja eleito.

Equilíbrio

“Quando eu falei em equilíbrio, é porque o sistema OEA tem, como muitos Estados, uma penúria orçamentária. Houve um desequilíbrio entre as duas funções básicas do sistema, que são a defesa dos direitos humanos, quando eles são violados, e a promoção, com ações antes deles serem violados. Na falta de dinheiro, apareceram doações, mas elas vieram para um item: liberdade de imprensa. E pegaram a Venezuela como espécie de bode expiatório. Qualquer que seja o problema da Venezuela, é um governo de sensibilidade popular, social, de anteposição à hegemonia norte-americana na região.
Nesse sentido, faltou essa sensibilidade. A ponto de levar a uma ruptura que é lamentável, também acho um erro a Venezuela ter se retirado desse sistema. Ao se retirar, os venezuelanos perdem uma corte a mais de apelação. E ninguém vai garantir que a Venezuela é o Estado perfeito, porque ela não é. Nem o Chávez é perfeito, nem Maduro, nem o Legislativo nem o Judiciário. Então, foi um erro de retórica. Eu, se for eleito-membro, com habilidade e disciplina, vou trabalhar (e já disse isso com chanceler venezuelano) para ter a Venezuela de volta.

O caso de Belo Monte

“Nos últimos anos, inclusive no episódio da Usina Belo Monte, a comissão tinha se comportado como uma instância em que havia quase um alinhamento prévio, uma identidade. Então, a comissão deixou escapar um pouco uma posição indispensável de ser um terceiro elemento. Por mais simpatia que ela tenha pelo ponto de vista dos peticionários, das vítimas, ela não podia se alinhar automaticamente, partindo do pressuposto de que os Estados mentiriam ou não teriam interesse em defender os direitos humanos.
E esse erro não foi um erro de má intenção. Foi erro decorrente da baixa percepção das mudanças profundas da região nos últimos dez, 20 anos. Porque tudo o que a comissão fez agora, se ela fizesse dez anos antes, está tudo certo. Os Estados eram ditatoriais, elitistas. Mas a democracia avançou também por dentro dos Estados. Por mais que haja um governo voltado para a questão social, de combate à pobreza, o governo não é suficiente para acabar com violações de direitos humanos que decorrem de 500 anos de uma opressão de elites, que está profundamente enraizada na alma das polícias, das autoridades, das empresas e do cidadão comum.”

Prestígio externo do Brasil

“É resultado de vários fatores. Do tamanho, do PIB, da população. O México não pode ser porque eles não discordam dos Estados Unidos em nada. E a Venezuela não pode ser porque discorda dos Estados Unidos em tudo. A Argentina também não pode ser porque tem uma política interna pautada na polarização. A Colômbia não pode porque ainda está resolvendo a guerra interna.
O Brasil tem uma condição absolutamente especial. Nas nossas conversas, que não foram 34, foram muitas, mais de 70, todo mundo responde o mesmo. O Brasil tem papel especial, cabe a ele fazer. O Brasil não faz retórica. E eu, nos meus discursos, estou com muita calma, dizendo que temos o maior interesse em estreitar relações com os EUA nas áreas de direitos humanos, que é muito importante.”