17 anos de injustiça.
Era dia 09 de Agosto de 1995. Cidade de Corumbiara, Estado
de Rondônia, Brasil. Os sem terras estavam acampados na Fazenda Santa Elina,
com suas famílias, amigos e companheiros. A polícia, o judiciário e o governo
do estado, estavam organizados para ‘atacar’ os invasores.
Tudo acertado para se fazer a operação militar, e o
comandante da tropa, procurava ludibriar os sem terras para ‘ganhar’ tempo ou
para ‘enrolar’ os ocupantes e preparar o verdadeiro genocídio, que marcou a
história do Brasil e a luta pela terra.
Vários policiais militares, jagunços e muitos infiltrados,
se armaram com armas de fogo, fizeram o cerco e aguardavam a ordem para
‘liquidar’ com os sem terras. Pela covardia, que deve ser a marca da polícia de
Rondônia, prepararam o dito ‘ataque’ na madrugada, para não dar chance aos sem
terras de se protegerem ou de reagirem.
Dada a voz de comando, os policiais, jagunços e os
infiltrados, começa a se aproximar do acampamento. Os sem terras perceberam a
chegada da polícia e ao primeiro grito de socorro, ouvem-se tiros e mais tiros.
Foi à verdadeira covardia!
A policia invade o acampamento, atira para todos os lados e
sem pudor. Saldo, 11 sem terras mortas, incluindo uma menina de sete anos, de
nome Vanessa, que ao susto dos tiros, levanta-se e tenta fugir. Além dos 11 sem
terras, dois policiais são encontrados mortos.
Como sempre a mídia tenta desconstruir, mas o movimento
católico, o movimento sindical rural e as famílias que estavam acampadas clamaram
por socorro e assim que os primeiros integrantes de movimentos de direitos
humanos chegam a Corumbiara, percebem a desgraça que a polícia fez.
Alem das mortes já certas no acampamento, alguns são recolhidos
para o hospital de Vilhena, Porto Velho. Entre os socorridos estavam Claudemir
Gilberto Ramos, um dos que sobreviveram e sua vida só foi salva, graças a CUT
Rondônia, que juntamente com o então presidente Vicentinho, solicitou que
retirassem Claudemir da cidade, para não ser morto.
Passado dias do massacre, a apuração e investigação do
Massacre de Corumbiara, foi feito pela Polícia Militar e o resultado não podia
ser outro, policiais absolvidos e os sem terras condenados. A comissão pastoral
da terra e outras entidades solicitaram um novo julgamento e o resultado, o
mesmos, policiais absolvidos e os sem terras condenados.
O movimento pelos direitos humanos recorreu do julgamento à
corte da Organização dos Estados Americanos (OEA) que se prontificou fazer uma
nova investigação e entregou ao governo brasileiro, à época FHC, solicitando um
novo julgamento, que prontamente o governo se negou.
Não havendo mais como recorrer à justiça, o Deputado
Federal, João Paulo Cunha, protocolou um projeto de lei, solicitando Anistia Política
aos dois únicos sem terras condenados, Claudemir Gilberto Ramos e Cícero
Pereira. O projeto tramita na câmara dos deputados em Brasília.
Enquanto isso já se passou 17 anos do Massacre e para
lamentar a inoperância do governo, o pai de Claudemir foi assassinado por
jagunços, no dia 27 de maio de 2011. O suposto matador foi preso, solto e
assassinado e o caso foi arquivado pela justiça de Rondônia.
Agora no dia 09 de Agosto de 2012, o que nos resta? A
justiça? A reparação?! A terra?!
Valdir Fernandes (Taffarel)
Secretário do Instituto Adelino Ramos (INFCAR)