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segunda-feira, 6 de julho de 2015

4/jul/2015, 16h13min Confronto entre sem-terra e policiais esquecido pela mídia é tema de livro-reportagem


Livro sobre o "massacre de Corumbiara" será lançado no dia 20 de julho, em São Paulo | Foto: Divulgação
Livro sobre o “massacre de Corumbiara” será lançado no dia 20 de julho, em São Paulo | Foto: Divulgação
Luís Eduardo Gomes
Um dos mais violentos conflitos entre sem-terra e latifundiários. Doze mortes, mas quase ou nenhuma informação. Para sanar esta lacuna e ir além do superficial, o jornalista João Peres lança, no próximo dia 20 de julho, o livro-reportagem “Corumbiara, caso enterrado” (304 pg), pela Editora Elefante, e com fotos de Gerardo Lazzari.
As mortes resultaram de confronto entre famílias sem-terra que ocupavam a fazenda Santa Elina, no sul de Rondônia, e policiais militares que cumpriam uma reintegração de posse. Passados 20 anos, ainda discute-se se o que ocorreu foi um massacre ou a reação a uma postura violenta e intransigente por parte dos agricultores.
João Peres conta que começou a investigar o caso há quatro anos, quando trabalhava no site Rede Brasil Atuale recebeu uma sugestão de pauta sobre o tema. “Tinha surgido uma pauta para conversar com um rapaz que tinha sido condenado por esse caso e estava foragido porque considerava a pena injusta”, diz Peres. “Eram 12 mortes, mas um caso pouco conhecido”.
O foragido em questão era Claudemir Gilberto Ramos, condenado a oito anos e meio de prisão por ser considerado o líder dos sem-terra envolvidos em um conflito com policiais militares que resultou na morte de 12 pessoas – nove sem-terra, dois policiais e um jovem não identificado. Ele não tinha sido um personagem central para a primeira matéria que Peres publicou sobre o massacre, mas eles voltariam a se falar.
“No começo de 2013, Claudemir pediu que o procurassem porque ele queria se entregar”, conta Peres, explicando que, após estas conversas, decidiu ir para Rondônia buscar a opinião de outras pessoas envolvidas e tentar preencher as lacunas sobre a história.
cicero pereira leite neto
Cícero Pereira Leite Neto foi um dos condenados pelo massacre | Foto: Gerardo Lazzari
Foram três viagens a Rondônia: no início de 2013, na metade do mesmo ano e no início de 2014. Ele conversou com sem-terra, policiais, políticos, advogados, integrantes de movimentos sociais, promotores e juiz. Revisou processos, documentos e cruzou dados. “Não havia muito material sobre Corumbiara. Eldorado de Carajás (massacre de 19 sem-terra nesta cidade paraense em 1997) tem livros, documentários, e esse caso não”, afirma Peres.
Ele acredita que a falta de um trabalho que sistematizasse o que ocorreu naquele julho de 1995 passa pelo fato de os sem-terra mortos ali não pertencerem a um movimento de projeção nacional. “O pessoal que ocupou a fazenda Santa Elina não estava ligado a nenhum movimento da reforma agrária, como o MST”, afirma.
Além de Claudemir, outro líder local, Cícero Pereira Leite Neto, foi condenado a oito anos e dois meses de prisão. Três policiais militares também foram condenados.
Peres, contudo, explica que o seu livro não traz uma conclusão definitiva sobre quem é o culpado pelo massacre. “O livro deixa para o leitor chegar a algumas conclusões. Se você procurar de um lado ou de outro, vai achar elementos para a condenção e absolvição”, diz. “Existe também, dentro de movimentos sociais, uma debate sobre se o que ocorreu foi um massacre ou uma batalha e em torno da condeção”, completa.
Ligação com a ditadura
Peres afirma que um dos aspectos que lhe chamaram a atenção na investigação sobre o massacre de Corumbiara foi o contexto de conflito social criado no norte do país devido a uma política do regime militar brasileiro.
“Durante a ditadura, houve uma política dupla: concederam muita terra para muita gente – um dos casos é a gleba Corumbiara, de 1,1 milhão de hectares – e, ao mesmo tempo, se fez uma política de atração de nordestinos em situação de pobreza para a região amazônica, para evitar que essas pessoas fossem para São Paulo e Rio de Janeiro”, afirma Peres. “Então, você encontra uma situação de pessoas muito pobres, desguarnecidas pelo estado, com fazendeiros com histórico de violência”.
| Foto: Gerardo Lazzari
Corumbiara abriga fazendas de milhares de hectares demarcadas no período da ditadura | Foto: Gerardo Lazzari
SERVIÇO:
O quê? Lançamento do Livro “Corumbiara, caso enterrado”
Onde? Ateliê do Gervásio – Rua Conselheiro Ramalho, 945, Bixiga, São Paulo – SP
Quando? 20 de julho, 19h
Entrada gratuita
http://www.sul21.com.br/jornal/confronto-entre-sem-terra-e-policiais-esquecido-pela-midia-e-tema-de-livro-reportagem/

Um comentário para “Confronto entre sem-terra e policiais esquecido pela mídia é tema de livro-reportagem”


  1. Adão disse:
    No confronto entre a polícia e o MST, ambos são vítimas. Demonizar os policiais, trabalhadores da área da segurança (que não gostam de cumprirem reintegração de posse, pergunte a qualquer policial). É o confronto de trabalhador contra trabalhador. Quem se mija (desculpem a expressão, mas é literalmente o que ocorre) com isso são os graúdos, latifundiários, que pagam ITR (imposto territorial rural) mais baixo do planeta e se dizem cumpridores das leis, mas quando outros trabalhadores (fiscais do Ministério do Trabalho e do INCRA) fiscalizam suas propriedades, são impedidos, agredidos e até mortos. A inexistência de reforma agrária no país não é culpa da polícia, mas dos governos e dos latifundiários.

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